Os Ervateiros
OS ERVATEIROS
Descobertas novas terras na América, os boatos de grandes riquezas correram até a Espanha. A cobiça dos homens trouxe muitas caravelas para buscar o ouro, a prata e as pedras preciosas. Muito sangue índio e espanhol foi derramado durante as viagens às matas desconhecidas. Porém, várias tentativas de construções de fortes e vilas não lograram êxito por causa dos ataques dos índios. Parecia que a América nunca seria conquistada.
Até que surge o forte Nossa Senhora da Assunção, com população espanhola. Em torno desse forte, ergueram-se ranchos de barro e santa-fé para o abrigo dos recém-chegados; mais tarde foram erguidos palácio, igreja, oficinas. Foi a primeira capital do Prata. Mas a obra colonizadora não resistiu à cobiça do homem, prosseguindo a luta pelos tesouros da nova terra. E Assunção foi palco de lutas políticas: várias famílias são enforcadas na praça e outras fogem para as selvas. Chegam à Espanha as noticias das desordens que campeavam no Prata. Vários "adelantados" (governadores) são enviados para trazer a paz.
Com a vinda do General Irala, a conquista da América se consolidou. Numa das expedições de conquista, Irala pisou as terras de Guairá (Paraná) onde foi recebido por várias tribos guaranis, com alegria e hospitalidade. Esses índios eram mais fortes, alegres e tinham costumes diferentes de outras tribos dessa grande nação. Entre esses hábitos, um chamou a atenção dos espanhóis - era o uso generalizado de uma bebida feita com folhas picadas, tomada num pequeno porongo através de um canudo de taquara. Os índios informaram aos espanhóis que era "cadi", a bebida do mate. Antes esta bebida era de uso exclusivo dos pajés, mas depois foi estendida aos guerreiros para ficarem fortalecidos para as lutas. Quando a paz voltou, o uso da bebida continuou, pois todos estavam acostumados a ela. As folhas dessa erva eram facilmente encontradas pelos índios, pois onde viviam havia muitas árvores, os ervais.
Os soldados espanhóis provaram dessa bebida e sentiram que de fato ela causava bem-estar, tirava o cansaço e era repousante. Ao retornarem a Assunção, os soldados levaram um bom carregamento de erva-mate. Em Assunção, os índios trabalhavam como escravos para os espanhóis, caçando, plantando e coletando frutas. Com a descoberta da erva-mate, os índios passaram a fazer viagem até Guairá para buscá-la. As viagens eram longas, sofridas, por isso muitos índios morriam pelo caminho de fome, febres, ataques de animais selvagens e insolação.
A Igreja tentou acabar com o hábito do chimarrão e com os escravos da erva-mate; tentou a excomunhão e depois espalhou histórias de envenenamento, doenças causadas pela erva-mate. Mas essas medidas nada adiantaram, pois o consumo do mate continuava, principalmente entre os pobres e os soldados. Até que Felipe III, rei da Espanha, proíbe a escravidão dos índios, devendo seus trabalhos ser remunerados. Desse modo, a extração da erva-mate seria feita quatro vezes por ano e paga. Tais ordens foram obedecidas por pouco tempo, e logo tudo voltaria a ser como antes. A erva-mate chegou a ser moeda corrente na América.