Jês
JÊS
Descendiam dos mais antigos caçadores do interior do Rio Grande do Sul. Seus principais grupos eram Caaguás e Guaianás. Todos falavam a mesma língua. Moravam na Serra Gaúcha, mas eram nômades devido às ameaças dos inimigos e à necessidade de procurar novas áreas de caça e de plantio. Tinham grande habilidade em se locomover na mata serrana, qualidade que lhes garantiu a sobrevivência ante os ataques dos índios inimigos, dos bandeirantes e dos imigrantes.
Suas casas eram de palha com quatro divisões internas, abrigando de 20 a 25 famílias. No inverno, faziam buracos circulares que cobriam com mato: eram as casas subterrâneas que os protegiam do frio da serra. (Essas casas tornaram-se verdadeiras armadilhas quando os imigrantes ocuparam esse território).
Andavam nus, mas no inverno alguns se cobriam de mantos tecidos de urtigas e caraguatás. Quando tiveram contato com o branco e passaram a vestir-se, começaram a ter doenças comuns do frio, como gripe, resfriado, bronquite e asma.
Alimentavam-se de caça, pesca, coleta; comiam farinha de pinhão (pinhão socado) e faziam roças rudimentares de milho, mandioca, abóbora e batata-doce. Caçavam em áreas delimitadas e não abatiam as fêmeas, só os machos. Só os homens caçavam, e eram bastante hábeis nessa tarefa. Tinham um grande respeito pela mata, pois ela lhes provia alimentos. Desciam a serra no verão e iam pescar e mariscar no litoral norte, principalmente na região da cidade de Torres, atualmente. Na agricultura, as atividades eram divididas por sexo: o homem derrubava o mato através da coivara (queima do mato pequeno), e a mulher plantava e colhia, sendo também muito habilidosa na produção de cestas a partir de fibras vegetais.
Na aldeia, havia o feiticeiro, que dirigia a vida do grupo: cuidava da religiosidade e da cura; determinava a época e o local da caça, da guerra e do plantio; decidia, inclusive, o nome do recém-nascido. O feiticeiro bebia a erva-mate em seus rituais e, através dela, "recebia" a vontade dos deuses.
Cada tribo era formada por dois grupos, sendo que um cultuava a Lua e o outro o Sol. Os integrantes desses dois grupos consideravam-se primos entre si. Os pertencentes ao clã da Lua seriam guerreiros, e os do clã do Sol seriam caçadores. O pai era quem escolhia o clã da criança. Cada agrupamento formava um clã diferente, e não havia casamentos entre pessoas do mesmo clã, embora pudessem casar até com mãe e irmã, desde que fossem de outro clã.
Suas armas eram arco com corda de urtiga, flechas com ponta de madeira endurecida no fogo ou de pedra, machados de pedra e tacapes. A mulher Jê, hábil na produção de cestas de fibras vegetais, era mais agressiva que o homem, chegando mesmo a bater no marido que não reagisse.